Ivan Jubert Guimarães
08/12/2007
- Papai, onde o senhor está me levando?
O pai, sem largar a mão do filho, agacha-se para ficar
de sua altura e esticando seu braço esquerdo aponta para
uma igreja distante e diz:
- Quero lhe mostrar uma coisa lá naquela igreja e
contar-lhe uma história muito bonita, triste, mas muito
bonita.
- Pensei que fôssemos comprar enfeites de Natal.
- Sua mãe vai cuidar disso, gostaria de lhe mostrar o
que é Natal e a causa de comemorarmos todos os anos essa
data. Você sabe?
- É quando vem o Papai Noel não é papai?
O pai sorri com a pergunta do filho e, para não
desapontá-lo responde:
- É sim meu filho, é quando vem o Papai Noel, mas eu
quero mostrar a você porque o Papai Noel vem nos visitar
todos os anos – e dizendo isso o pai se levanta e
recomeçam a caminhada rumo à igreja.
- Ora papai, ele vem porque é Natal!
- E você sabe o que quer dizer Natal?
- Eu já disse papai, é quando vem o Papai Noel.
- Preste atenção meu filho, Natal significa nascimento e
é isso que nós comemoramos no dia de Natal, o nascimento
do menino Jesus.
- É eu sei disso, tinha só me esquecido. Mas papai, se
Natal significa nascimento e se todos os dias nascem
crianças, por que todo dia não é Natal?
- Deveria ser meu filho, mas os homens ignoram isso por
pensarem cada um em si mesmos.
- Que nem o tio João papai?
O pai ri da pergunta do menino e responde:
- Sim meu filho, como o tio João.
Os dois continuam andando em direção à igreja, quando o
menino avista a mãe e a irmã vindo em sua direção.
- Veja papai, lá está mamãe e acho que ela ainda não nos
viu.
- É porque elas ainda estão longe, logo ela irá
perceber. Olha, ela já está acenando para nós.
Quando se encontraram a mulher disse:
- Ah meu bem, me desculpe, não consegui comprar
absolutamente nada, as lojas estão lotadas e as pessoas
todas num empurra-empurra que eu não agüentei ficar por
lá.
- Não se importe com isso, podemos comprar mais tarde ou
outro dia.
- É que daqui a pouco as lojas vão fechar e falta
comprar de tudo!
- Não se aborreça com isso meu anjo, compraremos tudo o
que precisamos. Por que vocês duas não vêm conosco?
Estou levando Carlinhos até a igreja, pois quero mostrar
a ele a origem do Natal.
E os quatro, então, seguiram em direção à igreja.
- Você sabia Bia, que Natal quer dizer nascimento?
- Quem disse isso?
- O papai, e eu disse pra ele que todo dia quando nasce
uma criança deveria ser Natal também.
- Você é um bobinho Carlinhos, mas acho que dessa vez
você está certo.
- Começa a contar a origem do Natal papai – pediu o
menino.
- Vou começar, foi assim:
Carlos, o pai, pigarreia para limpar a garganta e inicia
a história, agora andando de mãos dadas com Simone, sua
esposa.
- Carlinhos e Bia, tudo começou há muitos anos. Já
naquela época o mundo vivia momentos de tensão, muitas
guerras, e o povo ainda não possuía nenhuma cultura. Os
romanos achavam que o mundo pertencia a eles e foram
tomando conta de tudo e expandido seu domínio por todo o
Oriente. Roma era tão poderosa que se dizia na época que
todos os caminhos levavam à Roma.
- Até o Egito, outrora um povo muito culto e poderoso
caiu sob seus domínios. E os povos todos temiam os
romanos que cultuavam seus próprios deuses. Quando
chegaram à Palestina, os romanos se defrontaram com um
povo diferente, obediente, mas diferente. Eles
aguardavam a vinda de um Messias que iria salvá-los do
jugo dos romanos e seria o rei dos judeus. Então, eles
esperavam e pagavam os tributos que Roma lhes exigia.
Vocês estão acompanhando?
- Sim papai – respondeu Bia.
- Bem, ali na região da Galiléia, havia uma cidade
chamada Nazaré, onde moravam José e Maria e ela estava
prometida a José, um carpinteiro, como sua futura
esposa.
- Deus estava desgostoso com as coisas que via
acontecer, pois de nada adiantara ter destruído Sodoma e
Gomorra, de nada adiantara ter mandado um Dilúvio e de
nada adiantara entregar as tábuas com os Dez Mandamentos
a Moisés, pois os homens insistiam no pecado. Era
preciso mais e Deus então resolveu mandar seu próprio
filho à Terra. Convocou o Arcanjo Gabriel e
transmitiu-lhe a notícia.
Nesse instante eles chegaram à igreja e sentaram-se nas
escadarias.
- Continua papai – pediu Carlinhos.
- Estão gostando?
- Estamos sim papai – disse Bia.
- Pois bem - disse Carlos olhando com um sorriso para
Simone que lhe retribuiu com carinho.
- Tempos depois, o Arcanjo Gabriel foi até a cidade de
Nazaré e foi encontrar-se com Maria, uma linda virgem, e
aproximando-se dela sem que ela percebesse, Gabriel lhe
disse: “Salve Maria, o Senhor é convosco, bendita tu
entre as mulheres”. A princípio, Maria se assustou com
aquilo, mas o anjo transmitia tanta paz que ela
continuou ouvindo. E o anjo lhe dizia que ela teria um
filho e que deveria chamá-lo de Jesus e disse-lhe ainda
que ela seria fecundada pelo Divino Espírito Santo.
- O Arcanjo Gabriel foi procurar por José e lhe disse
que ele deveria aceitar Maria como sua esposa e aceitar
o menino que ela teria, pois ele era filho do Espírito
Santo. José ficou meio em dúvida com tudo aquilo, mas
como era um homem muito bom e acreditava em Deus
aceitou.
- Maria estava aflita e um belo dia foi visitar Isabel
que morava nas montanhas. Não tenho bem certeza, mas
acho que Isabel era sua prima. Assim que chegou, Maria
saudou Isabel que também estava grávida e, ao ver Maria,
Isabel lhe disse: “Bendita tu entre as mulheres e
bendito o fruto do teu ventre”.
- Parece a prece da Ave-Maria, não parece papai? –
perguntou Bia.
- Parece sim, minha filha. Mas acho que já estão
cansados de ouvir essa história, não estão não?
- Não estamos não, não é Carlinhos?
- Está bem, mas antes vamos até ali comprar pipocas.
- Eu tinha parado quando Maria tinha ido visitar sua
prima Isabel. Bem, Após três meses com Isabel, Maria
voltou para sua casa e, logo depois, casou-se com José.
- O tempo foi passando e logo chegou a hora de Isabel
ter seu filho e foi assim que nasceu João Batista.
- Passados mais uns meses, houve uma ordem para que
fosse feito um censo em toda a região e as pessoas
teriam que se alistar em sua própria cidade de
nascimento. Assim, José e Maria teriam que deixar Nazaré
e ir para Belém, onde haviam nascido. A viagem foi longa
e cansativa. José ia a pé e puxava um burrico no qual
Maria ia montada, já que estava grávida e a qualquer
momento a criança poderia nascer.
- Corriam pela região, fortes boatos de que o Messias
estava para chegar e se tornar o Rei dos Judeus.
- José e Maria viajavam durante o dia e, ao entardecer,
paravam para descansar. José ajudava Maria a descer do
burrico e procurava um bom lugar onde ela poderia
descansar. Recostaram-se a uma grande árvore e foi aí
que José viu uma grande estrela brilhando no céu. Chamou
a atenção de Maria para aquela beleza e Maria disse:
“Ela é realmente linda e parece que está nos seguindo
desde que saímos de Nazaré”.
- Longe dali, Gaspar, Melchior e Baltazar olhavam a
mesma estrela e cavalgando acabaram por se encontrar em
um mesmo ponto. Um deles disse: “Parece que se dirige a
Belém!”
- Quem eram eles papai? – perguntou Carlinhos.
- Eles eram os três Reis Magos. Eles também tinham
ouvido falar da chegada do Rei dos Judeus e começaram a
seguir aquela estrela formosa que aparecera no céu. Cada
um deles levava um presente para o menino que ia nascer.
- Os três Reis Magos passaram a cavalgar juntos e, ao
contrário de José e Maria eles cavalgam também à noite
para acompanhar a estrela.
- Quando o dia amanheceu José e Maria partiram
novamente. Maria tinha uma doçura no olhar, mas parecia
estar sentindo dores, mas não queria incomodar José e
manteve-se firme em cima do burrico. De vez em quando
José parava um pouco para descansar e assistia Maria
dando-lhe água para beber. Durante o dia, o calor era
muito grande, pois estavam viajando praticamente numa
área deserta. Quando a noite chegava, esfriava bastante.
- Naquele dia José sabia que já estavam bem próximos de
Belém e não pararam ao cair da tarde, como era de hábito
fazer. A noite já havia caído quando José, puxando o
burrico que trazia Maria, entrou na cidade de Belém. Por
causa do censo, a cidade estava cheia de gente e José
não encontrou vaga em nenhuma estalagem, mas, em uma
delas, o dono foi complacente com o estado de Maria e
disse que eles poderiam ficar no estábulo que ficava ao
lado e para lá eles se dirigiram.
- No estábulo, como era próprio, havia outros animais e
Maria olhava com bondade para todos eles quando,
repentinamente, começou a sentir dores. José ficou
desesperado e não sabia o que fazer e era Maria quem o
tranqüilizava. José apoiou a cabeça de Maria em seu
colo, alisando-lhe a fronte e logo em seguida, entre um
gemido e outro, nascia o tão esperado menino Jesus.
- Lá fora, a estrela ganhou um brilho ainda maior e
parou no céu. O povo todo pressentiu que o Messias havia
chegado e os Reis Magos tiveram a certeza de onde ele
estava e se dirigiram para lá. Enquanto isso, dentro do
estábulo, Maria envolvia o menino Jesus em um manto e o
colocou na manjedoura após enchê-la de palha. Foi o
berço que ela improvisou para aquele menino abençoado. E
logo depois chegaram os reis Magos, cada um trazendo uma
oferenda para o menino que acabara de nascer.
- Que bacana papai – disse Carlinhos – então é por isso
que no presépio existem tantos animais e três velhos
reis?
- É por isso mesmo Carlinhos. O presépio é a
representação do lugar onde Jesus nasceu.
Bia pediu:
- Continua a história papai, nunca ouvi uma história tão
bonita.
- Bem, vamos lá, eu comecei e agora tenho que ir até o
final – disse rindo.
- Longe dali o rei Herodes também já tinha ouvido os
boatos da chegada do rei dos Judeus e o que foi então
que ele fez? Com medo de perder o poder sobre seu povo,
os judeus, ele mandou matar todas as criancinhas recém
nascidas em todo o seu reino.
- Numa noite, enquanto dormia, anjos apareceram para
José e o avisaram do que Herodes já estava fazendo e o
alertaram para que pegasse o menino e fugisse com ele e
com Maria para o Egito. E assim eles partiram para que o
menino não sofresse o ataque de Herodes. E eles ficaram
no Egito até que Herodes morreu e os anjos novamente
avisaram José para que ele pegasse o menino e fosse para
a Terra de Israel. E José, Maria e o pequeno menino
Jesus se dirigiram para Nazaré. E é por isso que Jesus é
chamado de o Nazareno.
- Puxa papai, tem tanta coisa que eu não sabia – disse
Bia.
- E ali em Nazaré, Jesus passou sua infância e foi
crescendo, tornando-se um menino de espírito forte e com
muita sabedoria e quando ele tinha doze anos seus pais,
depois de muito procurarem por ele, encontraram-no no
meio dos doutores da época, conversando com eles,
ouvindo-os e interrogando-os.
Carlos interrompe um pouco sua narrativa, achando que as
crianças já estão cansadas e já ia se levantando quando
Carlinhos pergunta:
- E depois papai, o que aconteceu?
- Bem, depois disso, não existem registros na Bíblia
sobre o que aconteceu com Jesus até os seus trinta anos.
Supõe-se, entretanto, que seu pai o tenha levado aos
essênios.
- Desta vez foi Simone quem o interrompeu:
- Quem? Que povo era esse?
- Os essênios eram um povo diferente, faziam parte do
povo judeu, mas eram um povo mais evoluído, tanto que
eram chamados de terapeutas. Vestiam-se de branco e
entre outras coisas praticavam o ato da cura. Mas
deixe-me continuar:
- Os essênios acolheram Jesus e passaram a ensinar-lhe
tudo o que sabiam, mas em doses bem homeopáticas. Lá
Jesus recebeu muitas informações e instruções e também
muitos ensinamentos sobre a cura e sobre a vida. Lá
Jesus teria adquirido todo o conhecimento da humanidade.
E só quando estava pronto para sua missão, é que deixou
aquele lugar.
- Que missão papai? – perguntou Carlinhos.
- Lembra-se do começo da história quando eu disse que
Deus estava desgostoso com os homens e que iria mandar
seu filho para salvar a Terra?
- Lembro sim papai.
- Pois então, Jesus veio para cá com a missão de livrar
os homens dos pecados e dos sofrimentos, mas deixe-me
continuar.
- Jesus teria saído da convivência com os essênios
completamente mudado, possuía muito conhecimento e
provavelmente muito desse conhecimento teria sido
adquirido no Egito, quando esteve na Grande Pirâmide. De
lá, ele voltou para a região da Galiléia.
- Na Galiléia, mais precisamente no Rio Jordão, João
Batista, aquele que era filho de Isabel, pregava para os
fiéis e os batizava com as águas do rio quando avistou
um homem de longos cabelos chegando e pedindo para ser
batizado. João estava completamente estático diante
daquele homem. João não conseguia falar nada e apenas
balbuciava palavras e diante da insistência do homem em
ser batizado, João Batista disse: “eu é que deveria ser
batizado por vós”. Então Jesus lhe disse: “Deixa por
agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça”.
- Não entendi isso papai – disse Carlinhos.
- Nem eu – completou Bia
- Bem, deixe-me ver se consigo achar um meio de explicar
isso. O que Jesus quis dizer com essas palavras é que
tudo o que estava para acontecer naquele momento já
estava previsto e cada um deles, tanto Jesus como João
Batista tinham que cumprir o que Deus previra. Ficou
mais claro agora?
- Ficou sim papai – responderam as crianças.
- Assim que foi batizado por João Batista, Jesus seguiu
seu caminho e pouco tempo depois se dirigiu ao deserto
para meditar e foi lá que uma grande mudança se
verificou. Jesus ficou quarenta dias e quarenta noites
no deserto jejuando. Ao fim do jejum, eis que surge o
diabo e este fez diversas tentações para Jesus que se
negou a se submeter a todas elas. Fez também desafios a
Jesus, pois este estava com fome após quarenta dias
jejuando dizendo-lhe que se ele era mesmo o filho de
Deus que fizesse algumas pedras virarem pão e Jesus
respondeu que nem só de pão vive o homem. Como Jesus se
negava a ceder diante de todas as tentações e desafios
do diabo este foi embora.
- Enquanto Jesus estava no deserto, João Batista havia
sido preso e Cristo resolveu ir para a Galiléia.
- E por que João Batista foi preso papai?- perguntou Bia.
- Herodíades, esposa de Herodes pediu que João Batista
fosse preso por um daqueles caprichos de mulher. João
Batista condenava o modo de vida dela, pois ela era na
verdade esposa de outro homem que era irmão de Herodes e
foi Salomé, sua sobrinha quem pediu a cabeça de João
Batista.
- Hum entendi, mas Herodes não tinha morrido quando
Jesus era pequeninho?
- Boa pergunta Bia, Aquele Herodes que morreu era o pai
desse Herodes, esse era chamado de Herodes Antipas, o
pai era conhecido como Herodes o Grande.
- Posso continuar ou vocês têm mais dúvidas?
- Pode continuar sim papai responderam as crianças.
- A prisão de João Batista entristeceu Jesus e ele
começou a pregar e a dizer: “Arrependei-vos porque é
chegado o reino dos céus”.
- Certo dia, percorrendo pela praia da Galiléia, Jesus
começou a atrair os primeiros discípulos. Encontrando
Simão (depois chamado de Pedro) e
André jogando redes no mar, Cristo lhes disse: “venham
comigo e eu os transformarei em pescadores de homens”.
Logo depois se encontrou com Tiago e seu irmão João que
deixaram seu barco e passaram a seguir Cristo.
- Cristo continuou sua peregrinação por toda a Galiléia
fazendo suas pregações e, logo, uma multidão passou a
segui-lo vinda de todos os lugares, da Galiléia, de
Jerusalém, da Judéia.
- Um belo dia, olhando toda aquela multidão, Cristo
subiu a um monte e disse, talvez, suas mais belas
palavras, que ficaram conhecidas como o Sermão da
Montanha:
“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o
reino dos céus;”
“Bem-aventurados os que choram, porque eles serão
consolados”;
“Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a
terra”;
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque eles serão fartos”;
"Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles
alcançarão minha misericórdia;
“Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão
a Deus”;
“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão
chamados filhos de Deus”;
“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da
justiça, porque deles é o reino dos céus”;
“Bem aventurados sois vós, quando vos injuriarem e
perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal contra vós
por minha causa”,
“Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão
nos céus: porque assim perseguiram os profetas que foram
antes de vós”.
- Isso é lindo papai! – disse Bia.
- É maravilhoso - disse Simone, dá vontade de a gente
chorar.
- Eu também gostei – falou Carlinhos.
- É lindo sim, mas o Sermão da Montanha não termina aí,
ele é bem mais longo do que isso e nele estão
praticamente todos os ensinamentos de Cristo. Vale a
pena cada um de vocês ao chegarmos em casa, lerem-no com
paciência e com o coração e com a mente abstraída de
qualquer pensamento ruim. Foi durante o Sermão da
Montanha que Cristo nos ensinou a falar com Deus.
E como foi isso papai? – perguntou Carlinhos.
Foi assim:
- Cristo disse que quando dermos esmolas, não devemos
deixar que os outros vejam, que não devemos orar para
que os outros vejam e ouçam o que estamos fazendo, e fez
assim: “quando quiseres falar com meu Pai, fareis assim:
Pai nosso, que estás nos céus,santificado seja o teu
nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim
na terá como no céu. O pão nosso de cada dia nos dá
hoje, e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores; e não nos induzas à
tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o reino, e
o poder, e a glória, para sempre. Amém.
- Meu querido – disse Simone – ouvindo assim, parecem as
palavras mais lindas do mundo.
- Papai, fale dos milagres! – disse um Carlinhos cheio
de ansiedade.
- Cristo não fez milagres.
- Nãoooooooo? – indagaram todos.
- Não, se vocês prestaram atenção nos filmes que já
assistiram, vocês vão se lembrar de que Cristo quando
fazia uma cura, e ele fez muitas, ele dizia à pessoa que
havia sido curada: “Foi tua fé que te curou”. Lembram-se
disso?
Todos assentiram com suas cabeças.
- O que ele queria mostrar é que a fé de uma pessoa é
que produz os verdadeiros milagres, que se a pessoa não
quiser ser curada, se não tiver fé, não adiantaria nada
Cristo tentar curá-la. E diante dos olhos surpresos da
multidão ele dizia: “Vós podeis fazer isto e muito
mais”!
Simone interveio:
- Isso é um gesto de grande humildade, não pegar para si
os méritos dos outros.
- É verdade meu amor, Cristo nos deu exemplos e mais
exemplos para que mantivéssemos aqui na Terra uma
convivência pacífica com todos os homens, mas,
infelizmente, nós nunca seguimos seus exemplos – e
virando-se para os filhos, continuou – meus filhos,
muitas coisas aconteceram nessa história que eu acho que
vocês devem ler na Bíblia e o papai vai tirar qualquer
dúvida que tiverem. Vou pular um pedaço agora, tudo bem?
- Tudo bem sim papai, o senhor já deve estar bem cansado
– disse Bia.
Carlos sorriu para a filha e continuou seu relato.
- Cristo, ainda antes do Sermão da Montanha, já havia
dito que ele era o filho de Deus e isso incomodava muito
o Sinédrio que era um tribunal dos sacerdotes judeus que
começaram a perseguir Cristo para entregá-lo aos romanos
que eram o povo que dominava toda aquela região da
Palestina. Os romanos não queriam se envolver com
problemas religiosos do povo judeu, mas os sacerdotes,
liderados por Caifás que era o sumo sacerdote diziam a
Pôncio Pilatos que Cristo se proclamava o Rei dos Judeus
e isso não agradava aos romanos. Tanto fizeram que
Cristo acabou sendo preso e o resto eu quero mostrar a
vocês lá dentro da Igreja para que vejam com seus olhos
e sintam com o coração tudo o que aconteceu na Via
Crucis de Cristo.
E Carlos levantou-se com a família e todos entraram na
Igreja.
- O que é Via Crucis papai? – perguntou Bia.
- Via Crucis é o trajeto que Cristo percorreu carregando
a cruz até seu Calvário. Algumas pessoas confundem muito
Via Crucis com Via Sacra. Via Sacra quer dizer um
movimento que fiéis fazem percorrendo mentalmente com
Cristo o caminho que o levou do Tribunal de Pilatos até
o monte Calvário. Nós vamos ver tudo isso aqui dentro da
igreja, olhando os vitrais que mostram as quatorze
etapas que representam a Via Crucis.
- Aqui, na primeira etapa, Cristo é condenado à morte.
- Por que papai? Indagou Carlinhos
- Veja meu filho, Cristo tornou-se um problema para os
sacerdotes judeus e para Caifás, que era o sumo
sacerdote. Eles nunca aceitaram que Cristo fosse o
Messias que eles esperavam e esperam até hoje. Quando
foi levado a Pilatos, este não queria se envolver com a
religião dos judeus e lavou as mãos, deixando a decisão
para o povo e o povo condenou Cristo, libertando um
bandido chamado Barrabás, pois era Páscoa, uma data em
que o governo romano sempre libertava um prisioneiro.
- Vejam agora esta segunda estação onde aparece Cristo
carregando a cruz em suas costas. Imaginem o sofrimento
de ele ter que carregar tanto peso, depois de ter sido
açoitado e torturado pelos soldados romanos e ainda por
cima ter que carregar na cabeça uma coroa de espinhos em
sua cabeça. Notem que durante todo o percurso ele não
deu um só grito e não derramou uma só lágrima de dor.
- Aqui na terceira etapa ele não resiste ao cansaço e ao
peso da cruz e cai de joelhos. Ele é açoitado outra vez
e com sacrifício ele se levanta e continua sua
caminhada.
- Meu Deus – disse Bia – como ele sofreu papai!
- Sofreu sim minha filha, e tudo isso por levar a todos
os homens da Terra uma mensagem de amor e de paz.
- Não entendo uma coisa papai – interveio Bia mais uma
vez – Com tantos lugares no mundo por que ele foi parar
logo nessa região tão hostil?
- Hum, uma boa pergunta minha filha, uma boa pergunta. É
o seguinte, naquele tempo todas as regiões do mundo eram
habitadas por povos politeístas que acreditavam em
muitos deuses e a Palestina era habitada por um povo que
acreditava em um único Deus. Foi por isso que ele foi
para lá.
Mas deixe-me continuar mostrando os vitrais para vocês.
- Nesta quarta estação ele encontra Maria, sua mãe, que
tenta aproximar-se, mas é impedida pelos guardas
romanos. Imaginem o que deve ser o sofrimento de uma mãe
vendo seu filho ser tratado dessa forma tão violenta
pelos homens.
- A quinta estação mostra Simão Cirineu ajudando Cristo
a carregar a cruz. Ele era uma homem comum que estava
ali assistindo aquele calvário e como Cristo estava
enfraquecido, sem alimento, sem água, sem ter dormido
durante horas de interrogatório e ter sido muito
torturado, sua força física estava no fim.
- Vejam a sexta estação. Aqui Verônica limpa o rosto de
Cristo. Ela também era uma pessoa comum que não resistiu
ver Cristo sendo tratado daquela forma e foi enxugar-lhe
o rosto. Contam que ao fazê-lo a imagem do rosto de
Cristo ficou no xale que usou. Hoje nas igrejas
católicas que possuem um coral sempre existe uma
Verônica que é a cantora principal da igreja.
- Olhem com atenção esta sétima estação. Cristo cai pela
segunda vez devido ao cansaço. Seus olhos estão fixos na
multidão que acompanha seu calvário.
- Agora estamos vendo a oitava estação do calvário de
Cristo que mostra seu encontro com as mulheres de
Jerusalém, que choram com seu sofrimento.
- Aqui, na nona etapa desse martírio, Cristo cai pela
terceira vez já próximo do cume do monte.
- Esta décima etapa mostra a humilhação sofrida por ele,
quando chega ao topo do monte e é despido pelos soldados
romanos.
- A décima primeira etapa mostra Cristo sendo pregado na
cruz. Imaginem a dor que ele sentiu e ainda ter forças
para dizer, já com a cruz fincada ao solo, “Pai,
perdoai-os porque eles não sabem o que fazem”.
- Simone interveio mis uma vez – Acho que ele só teve um
momento de fraqueza quando disse: “Pai, por que me
abandonaste?”
Carlos esclareceu a esposa: - Na verdade não foi isso o
que ele disse querida. Pense bem, ele sempre soube que
tudo aquilo aconteceria e foi para cumprir seu destino
que ele decidiu entrar em Jerusalém. Ele jamais diria
isso, assim como não disse uma única palavra pedindo
clemência e tantas foram as ofertas que recebeu para
isso. Além do mais você acha que após proferir as
palavras pedindo que o Pai perdoasse os homens porque
eles não sabiam o que faziam ele diria isso? O que
Cristo disse na verdade foi: “Pai, Tu me glorificaste”.
Bem diferente não é? E tem mais meu amor, em seguida ele
diz que tudo está consumado e que ao Pai ele entregava
seu espírito.
- Você tem razão querido, acho mesmo que ele nunca
poderia ter dito aquilo.
- Continuando: Venham até a décima segunda estação. Ela
mostra a morte de Cristo, que antes de morrer para o
corpo, disse aquelas palavras lá em cima e ainda disse
olhando para sua mãe e para o discípulo que amava:
“Mulher, eis aí teu filho” e voltando-se para o
discípulo: ”Eis aí tua mãe”. Vejam que grandeza de
espírito.
- Enquanto tudo isso acontecia, uma forte tempestade
assolou aquela região fazendo com que muitos fugissem do
local, mas muitos reconheceram naquela hora que aquele
homem era de fato o filho de Deus. Vamos para a
penúltima etapa.
- Após a morte de Cristo, seu corpo é retirado da cruz e
é abraçado por Maria.
- E aqui, na última estação, o corpo de Cristo é
enterrado. Mas seu corpo não havia sido entregue à
família, um discípulo oculto de Cristo, chamado José de
Arimatéia foi até Pilatos e pediu-lhe o corpo de seu
mestre para que a família o enterrasse.
- Um dia depois do sepultamento, Maria Madalena foi até
o túmulo e viu que a pedra que o fechava, estava aberta
e foi correndo chamar por Simão Pedro e quando chegaram
ao sepulcro eles viram os lençóis no chão e não viram o
corpo de Cristo.
- Todos se foram e Maria Madalena ficou chorando quando
após ter visto dois anjos viu Cristo, mas não sabia que
era ele, e Cristo então lhe disse: “Mulher, por que
choras? Quem buscas?” e Madalena disse que buscava por
seu Mestre, e Cristo tornou a dizer: “Não me detenhas,
porque eu ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus
irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai,
para meu Deus e vosso Deus”.
- Essa Madalena é a mesma que Jesus salvou de ser
apedrejada? -Perguntou Bia.
- Não se tem provas de que tenha sido ela a prostituta
que ia ser apedrejada, mas ela foi quem lavou os pés de
Jesus e os enxugou com seus cabelos.
Bia, com os olhos cheios de lágrimas disse ao pai: - que
história mais linda contada assim pelo senhor papai. E
pensar que tudo poderia ter sido diferente se Judas não
houvesse traído Jesus.
Carlos começou a caminhar levando a família para fora da
igreja e chegando do lado de fora comentou:
- Judas não traiu Cristo.
- Como assim, não traiu? – quis saber Simone, parando de
andar e voltando-se para Carlos.
- Não foi Judas quem traiu. Aliás, ninguém traiu Cristo.
Judas era o mais inteligente e o mais fiel dos
discípulos e Cristo o escolheu para a difícil missão de
ir chamar aqueles que o prenderam, porque assim tinha
que ser feito.
- Mas está na Bíblia Carlos.
- Eu sei que está, como está que Cristo perguntou ao Pai
porque Este o abandonara. E os homens sempre têm que
arrumar um culpado para se eximirem de suas próprias
culpas.
- E eu sempre achei que ele fosse um grande covarde –
disse Bia.
- Eu também – completou Carlinhos.
- Se vocês querem mesmo saber, covardes foram todos os
outros apóstolos. Eles abandonaram Cristo. Pedro o negou
três vezes, como Cristo previra. E nenhum deles teve
coragem de ficar por perto quando o Mestre era julgado e
condenado. Nenhum deles se ofereceu para carregar a cruz
de Cristo, pois tinham medo de serem presos.
- Nunca mais hei de ler a Bíblia – disse Simone.
- Não meu amor, não só você, mas também nossos filhos
têm que lê-la sempre, mas com muita atenção e raciocínio
para entendê-la e interpretá-la corretamente. Cristo
falava por parábolas e existem muitas delas que são
maravilhosas e merecem ser lidas.
- Papai – interrompeu Bia – e essa história de que Jesus
teria amado Madalena e que ela seria um dos apóstolos de
Jesus e que se casaram?
- Veja Bia, preste atenção, se tudo isso for mesmo
verdade, o que muda nas mensagens que Cristo deixou?
Pense nisso e qualquer hora iremos conversar mais sobre
esse assunto.
- Ainda não consigo aceitar a idéia de que um homem como
Jesus tenha morrido crucificado.
Carlos sorriu sabendo que o que iria dizer iria causar
uma reação de todos, mas tinha que falar:
- Jesus não morreu na cruz, Jesus morreu no deserto.
- Como é que é? – perguntaram as crianças ao mesmo
tempo.
- É isso mesmo, Jesus não morreu na cruz, quem morreu na
cruz foi Cristo, Jesus morreu no deserto logo depois de
ter derrotado o demônio. Ao fazê-lo, nasceu o Cristo.
Vocês não perceberam que enquanto eu contava a história
para vocês, logo depois de Jesus ter derrotado o
demônio, eu nunca mais falei o nome dele? Só o chamei de
Cristo? Pois é. Agora vamos para casa. Outra hora eu
explico isso também.
- Foi de fato um alinda história querido e cheia de
surpresas.
- Foi sim papai – disse Bia.
- Sabe papai? – perguntou Carlinhos – eu queria escrever
outra carta para o Papai Noel e tem que ser urgente.
- Por que tem que ser urgente meu filho?
- Para ele não passar em casa esse ano, porque essa
história que o senhor contou foi meu melhor presente de
Natal.
- Também acho papai – completou Bia.
- E eu acabei não conseguindo comprar nada para por
embaixo da árvore meu amor.
- Temos a árvore minha querida.
Ivan Jubert Guimarães
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